Num andar de um bairro pobre desta cidade morava, com os seus pais, uma menina muito bonita que frequentava a escola primária perto da sua casa. O pai, muito doente, estava desempregado e a mãe “andava aos dias” a fazer limpezas em casa de umas senhoras... como tal, a mãe não tinha muito tempo e cuidado e a criança quase sempre estava muito suja, e as suas roupas eram velhas e maltratadas. Um dia, o jovem professor ficou bastante incomodado com a situação e apresentação da menina. "Como é que uma menina tão bonita, vem para a escola tão mal vestida e suja ?" - Lembrou-se, pegou no cartão multibanco, levantou algum dinheiro do seu salário e, apesar de também ter algumas dificuldades, resolveu comprar-lhe um vestido novo e no dia seguinte ofereceu-lho. A menina, não tardou a experimentá-lo... Ela ficou linda com aquele simples vestido verde...
A mãe, quando viu a filha (linda) naquele lindo vestido verde, sentiu que era lamentável que sua filha, vestindo aquela roupa nova, fosse tão suja para a escola e, por isso, passou a dar-lhe banho todos os dias, a pentear os seus cabelos e a cortar as suas unhas. Quando acabou a semana, o pai disse à esposa: "Mulher, não achas uma vergonha que nossa filha, sendo tão bonita, tão limpa e asseada more num lugar como este, a cair aos pedaços? O que achas de eu retocar a casa, nas horas vagas, dar uma pintura nas paredes, consertar a cerca e plantar umas flores no jardim." E se assim pensou, logo a seguir meteu mãos à obra e renovou a sua casa… Pouco tempo depois, a casa deles destacava-se dos outros andares, não só pela beleza das flores que enchiam o jardim como também pelo cuidado em todos os detalhes... Os vizinhos do bloco, ficaram envergonhados por morar em autênticos barracos quando comparados com o andar que junto aos deles se destacava e, sabe-se lá movidos por que razão, resolveram também cuidar das suas casas, plantar flores, lavar cortinados, etc. Pouco tempo depois, o bairro todo estava transformado, de cara lavada. Por um qualquer acaso, o Padre da freguesia, que acompanhava as dificuldades, os esforços e as necessidades daquele punhado de gente, pensou que eles bem mereciam uma ajuda das autoridades. Dirigiu-se à autarquia, expôs as suas ideias e saiu de lá com autorização do Presidente para formar uma comissão e estudar os melhoramentos necessários ao bairro. Alguns meses depois, as ruas de pó e lama foram substituídas por alcatrão e passeios de cimento; os esgotos a céu aberto foram canalizados e o bairro ganhou ares dignidade... Ficou de cara lavada!
Caríssimos Amigos e Amigas, no meio de tantas crises e misérias estamos a ficar enlameados por tanta coisa má. Parece que o bem não tem lugar e quando se faz (ou tenta fazer) não é motivo de alegria e convém abafá-lo com alguns odores putrefactos e mal intencionados… o verde, que outrora foi cor de esperança, torna-se agora cor de invejas e de um negro futuro. O vestido verde oferecido à pequenita da historinha foi o princípio de uma grande mudança mas ás vezes andamos tão distraídos com coisas ou outros sem importância que nem nos apercebemos de que podemos ajudar a mudar ou até mesmo de que as mudanças que vão surgindo ao nosso lado acontecem sem a nossa participação. Outras vezes nem vimos que Deus nos vai oferecendo, ao longo da vida e através de sinais, uns “vestidos verdes” para que nós possamos (re)começar com fé, esperança e caridade... basta querer e compreender esses sinais… Neste tempo que vamos viver Ele estará - como sempre - de braços abertos para nos amparar na cruz da vida e revelar o mistério da paixão, morte e ressurreição, por amor!
Paulo do Monte Pedral, em Fevereiro de 2013