Este era o texto que estava gravado numa lembrança de matrimónio...Foi no domingo passado (por coincidência dia em que os meus pais comemoravam mais um aniversário de casamento) que o Márcio e a Miriam assumiram o compromisso - perante um grupo de convidados intimo e restrito - de apartir daquele dia viverem a vida a dois... Amigos há quase dez anos, é ás vezes uma sensação estranha vê-los assim a assumirem uma responsabilidade destas, aos meus olhos o Márcio ainda me parece o "puto refilão" que protestava por tudo e por nada; estou quase como dizia o pai do Márcio, entre lágrimas, que "até este me vai fugir"... que bonito... confesso que depois da cerimónia, o momento que mais me marcou e que me fez chorar, foi o abraço entre pai e filho... tão intenso, tão carinhoso que me deixei envolver! É uma satisfação ter ouvido da boca da mãe, nos momentos finais do convívio quando se faziam as últimas fotos, dizer que " ele também é em parte teu filho" ... pois é!
Meu caro Márcio, deixo-te aqui umas palavras de carinho e um obrigado sincero por teres partilhado ao longo destes anos aquilo a que nós hoje chamamos de amizade e Companheirismo... aliás foi uma alegria ter ficado na mesa que titulaste com esse nome... muitas coisas vivemos ao longo destes anos... aborrecemo-nos ás vezes... não concordavamos outras... "javardavamos" muitas delas... mas a verdade é que fostes sempre amigo e estiveste sempre na linha da frente para mostrar que vale a pena construir a felicidade...
A ti e à Miriam desejo que esta nova etapa da vossa vida seja fecunda em amor, em compreensão, em carinho e em alegria... e tal como na lembrança, vinha um dominó, lembro que a vida é quase como que um jogo onde é preciso saber jogar sem batota, com as peças todas, e com todos os que aceitam o desafio de viver... afinal é "peça a peça que se constroi a felicidade".
Um grande abraço de Companheirismo e Amizade
Paulo / Setembro 2006
Reeditando o poema dois anos depois aqui está ele para ser partilhado convosco...
Mal nascemos, sem dar conta percebemos
Que o nosso tempo começou e, por agora, não vai parar
E devagar gatinhamos, depois passo a passo caminhamos
Caindo, sorrindo, chorando mas, sem parar para pensar
E à medida que o tempo passa, damos conta que crescemos
E à nossa volta, a novidades nos fazem habituar
Brincamos, sorrimos, dormimos e até corremos
Na ânsia de aprender mas, sem parar para pensar
Já na escola, de outra forma aprendemos
E mais informação põe o cérebro a funcionar
Com coisas novas que em grupo desenvolvemos
Onde nem sequer há tempo de, parar para pensar
Anos depois surgem ventos de mudanças
E o corpo torna-se diferente e ímpar
E vamos fazendo as nossas próprias experiências
Muitas vezes, sem parar para pensar
E anos mais tarde quando nos tornamos grandes
Surge a nostalgia e a vontade de voltar
E é nesses tempos mais ou menos distantes
Que nos lembramos de, parar para pensar
E agora, numa competição e sempre a correr
Desde o nosso brusco acordar até ao deitar
Vemos em pleno a nossa vida a amadurecer
E por isso não temos tempo de, parar para pensar
E corremos de manhã para o ganha-pão
Continuamos a corrida ao almoço e ao jantar
E a correr vamos por um sonho ou por alguém
Onde poucas vezes, paramos para pensar
Depois, vivemos a vida para os outros
Porque acreditamos e confiamos na palavra Amar
Mas, até esses que no fundo são bem poucos
Ás vezes também não nos deixam, parar para pensar
Lutamos depois por pensamentos e ideais
Aqueles sobre os quais ainda ousamos sonhar
Voltamos a cair, levantamo-nos, e cada vez mais
Nos vai faltando o tempo de, parar para pensar
Em horas de revolta contra o que não está certo
Ganhamos forças e coragem para denunciar
Mas, os medos da ruptura pairam bem perto
E silenciam o nosso, parar para pensar
E quando os que nos amam, nos vão deixando
Um a seguir ao outro e ás vezes até sem contar
Nesses tempos de dor choramos, meditando
Que muitas vezes por eles, não paramos para pensar
Os anos vão-se passando e os tempos mudando
O corpo torna-se frágil, com pouca força para andar
E empurram-nos para um qualquer canto hediondo
Onde não ouvem o nosso delicado, parar para pensar
Mas, um dia acaba a corda do nosso relógio
Chega também o nosso tempo de findar
É nessas horas que, dizem os entendidos
Enfim, finalmente estamos parados para pensar !
Paulo A. Santos / Setembro de 2004
No silêncio parei para pensar, e nas areias molhadas do mar
À noite, sentei-me um bocado…
Pela minha cara uma lágrima rolou, e sem querer ela escapou
Ao encontro do mar salgado.
Sinto a falta de um carinho, de um “xi-culação” apertadinho
Estremeço dia e noite com frio…
Sou um oceano de emoções, mergulhado em tradições
Que aos poucos vai ficando vazio.
Sempre fui homem de multidões, corri meio mundo, arrebatei corações
Semeei amores e colhi algumas inimizades…
Mas, quando parava para pensar ao tentar o desejo enganar
Confundia sempre as minhas vontades.
Volvidos todos estes anos de vida, descobri que tenho uma ferida
Que ás vezes sangra e me invade de dor…
E é ela que me sufoca ao falar, é ela que me tolhe ao ter de calar
E pouco a pouco me faz morrer de amor.
Nada fiz para a contrair, foi a vida que a fez surgir
Anunciando-se sem perigo…
Mas propagou-se pelos sentidos, deixando os meus lábios tolhidos
Num olhar, que se quis de amigo.
Este vazio nas areias do mar, com tanta água salgada a ondular
Confunde o palpitar do meu coração…
Mas vai inebriando os sentidos, desbloqueando alguns tolhidos
E fazendo compreender a razão.
Avivou esta ferida, que ao longo dos anos parecia esquecida
A determinação analista de estrangeiro e tradutor…
Era já obra de engenharia, que arquitectada com mestria
Misturava as emoções num colorido de Amor.
Mas penso que esta ferida crónica, de natureza lacónica
Será sempre vivida num espírito de solidão…
Pois, só ama quem se deixa amar; só tem quem aprendeu a dar
E, finalmente, só vive quem sem medos tem paixão!
Paulo/Junho de 2006
Depois das férias que, desejo, tenham sido profíquas em descanso e revitalização eis-nos regressados ao trabalho e à habitual ordem da vida activa diária...
O meu tempo de férias, apesar de descansado e revitalizante, foi algo atribulado pois dias antes de o iniciar fui “brindado” com algumas coisas desagradáveis desde um pequeno acidente com a viatura de trabalho, uma avaria no meu automóvel, a perda da carteira com alguns documentos e cartões, a perda da mala no aeroporto, o desmarcar de uma outra viagem... foram tantos os azares que francamente confesso ter ficado cismado a pensar o que quereria dizer tanta desordem seguida e que mais valia não ter saído de casa! Ainda pensei “ir à bruxa” mas como eu não acredito nessas coisas e não conheço nenhuma senhora (ou senhor) que de facto exerça essa actividade, aproveitei o melhor que soube o tempo de férias com algumas limitações e tentei esqueçer estas desordens, esperando por melhores dias... Na verdade, aprendi que é nos momentos de algum descontentamento, que facilmente enfatizamos de tal forma o infortúnio da perda e da desordem que acabamos valorizando por demais as coisas que têm um valor relativo e consequentemente esquecemos que no essencial, será talvez dessa desordem que, mais cedo ou mais tarde – dependendo de cada um – retornará a ordem e que tudo não passou, talvez, de uma prova à nossa paciencia...
Conta-se que um cocheiro conduzia uma carroça cheia de abóboras. A cada solavanco que a carroça dava, ele olhava para trás e via que as abóboras ficavam todas desarrumadas e tinha perdido uma ou outra... Insatisfeito, ele parava a carroça, descia e colocava-as novamente no lugar. Pouco depois reiniciava sua viagem... lá vinha outro solavanco e tudo se desarrumava de novo...
O homem, cismado e desanimado, dizia:
- Nunca mais vou conseguir terminar minha viagem. É impossível conduzir nesta estrada de terra, conservando as abóboras arrumadas e sem perder nenhuma!
Enquanto assim ia dizendo, passou à sua frente uma outra carroça cheia de abóboras e ele reparou que o cocheiro seguia sempre em frente e nem olhava para trás... uma ou outra abóbora acabava por cair da carroça, mas as outras abóboras que estavam desarrumadas organizavam-se sozinhas no próximo solavanco. Foi quando ele compreendeu que, se colocasse a carroça em movimento na direcção do local onde queria chegar, os próprios solavancos da carroça fariam com que as abóboras se acomodassem nos seus devidos lugares e, provavelmente, evitasse algumas perdas...
Meus caros Amigos e Amigas:
Nem todos encaramos as perdas e as desordens da mesma forma... Na verdade o valor delas é sempre pessoal e, por isso, deve ser por nós perspectivado e relativizado, pois se paramos tempo demais para pensar nos problemas, nos azares, nas incompreensões, provavelmente estaremos a perder tempo precioso na nossa viagem de vida e distanciamo-nos das nossas metas. Como diz um amigo meu, temos que saber o que é realmente importante para cada um de nós, partilhando-o com quem merece e seguindo sempre em frente, aproveitando cada momento único da vida...
Ontem, é passado... Amanhã, é futuro... e Hoje é simplesmente uma dádiva que devemos viver plenamente pois não sabemos se será o nosso último dia... Não é fácil, pois nem tudo depende de nós, mas pelo menos podemos tentar fazer um esforço nesse sentido, transformando os solavancos da vida em oportunidades para repor a ordem nas nossas “aboborinhas”.
É dificil deixar hábitos (eu que o diga com o tabaquinho), é doloroso perder alguém das nossas relações, é complicado não nos preocuparmos com os problemas dos outros... mas é possível simplesmente seguir em frente, ainda que muitas vezes na estrada da vida tenhamos que dizer em tom de desabafo:
- Ora... abóboras para isto!
Paulo/Setembro de 2006