Em Junho, Julho, Agosto e Outubro alguns dos rapazes e raparigas que estiveram ou ainda estão ligados à Comunidade do Monte Pedral vão celebrar o seu matrimónio cristão... Uma nova fase de vida – agora a dois – onde terão de ter tempo para amadurecer o sentimento que um dia os uniu e deixar nascer nesta terra os frutos de amor com que Deus os abençoar. A vossa (nova) vida continuará por certo a ter necessidade da presença dos outros que estão ou estiveram ao vosso lado para que possais melhor compreender e saborear esta nova vida de aliança e de fidelidade sendo certo que, para a temperar, precisareis de um ingrediente ou especiaria secretos… Partilho convosco esta historinha que publiquei em 2002 e, com uma bênção especial e a certeza de que eu estarei aqui, desejo-vos as maiores felicidades… a dois e em comunidade no alto deste monte onde, um dia, vós também subistes...
A filha recebeu da sua mãe, no dia do casamento, uma pequena caixa de veludo vermelho e a indicação de que só ela a poderia abrir. Todos os dias, quando cozinhava, ela pegava na caixa, abria-a e do seu interior retirava algo que colocava como tempero na comida. O seu marido perguntava várias vezes que condimento ou ervas aromáticas eram aquelas que tornavam os pratos tão saborosos e apetitosos mas, a resposta da esposa era sempre a mesma: “Não sei, é um segredo que me foi dado pela minha mãe”.
Um dia a esposa adoeceu e teve de ser internada num hospital. O marido ao regressar a casa preparou a sua refeição e ao ver a caixa, não resistiu...
Pegou nela, abriu-a com cuidado e viu que lá dentro apenas tinha um pequeno papel velho, amarrotado e dobrado... ao abri-lo reconheceu a caligrafia da sogra que dizia: “Filha, não te esqueças de colocar uma pitada de Amor em tudo o que tu fizeres”.
Nestes últimos tempos vivemos uma época em que o Amor (o condimento essencial ao tempero da vida) parece permanecer na prateleira do nosso esquecimento e poucas vezes é utilizado ou, se o utilizamos, colocamos outros “temperos” em demasia e o nosso sentido do paladar não chega a distingui-lo. Na televisão, internet, rádio, jornais (…) vemos e ouvimos insistentemente o relato (execrável) de desgraças e de crises e até parece que a vida real está de tal forma condenada que nada se faz ou existe de bom. É certo que as vezes - no trabalho, na rua, na escola, na comunidade e até de alguns amigos - apenas recebemos para temperar os nossos cozinhados “urtigas secas” ou umas “malaguetas picantes” que inibem as nossas papilas
gustativas e atordoam o nosso sentido do olfato; outras vezes, provavelmente, temos as nossas papilas gustativas tão habituadas ao amargo que os nossos sentidos não conseguem distinguir o tempero de Amor que outros colocaram nos seus ou nos nossos cozinhados.... Se todos os dias conseguirmos renovar e retirar da caixa de veludo vermelho do nosso coração o papel velho, amarrotado e dobrado com a receita do tempero da vida, seremos os melhores cozinheiros do mundo pois utilizamos nos nossos cozinhados o segredo e o sentido da vida que Deus nos dá todos os dias para alimentar o corpo e o espírito…
Estimados Amigos e Amigas, agradeço-vos o tempo em que no alto deste monte partilhei (e continuarei a partilhar) convosco e com todos o ensinar e o aprender a temperar a vida em comunidade, ás vezes amarga, ás vezes doce, ás vezes incompreendida… no papel (já) velho e amarrotado pelos anos da vida que sai da caixinha de veludo do meu coração está escrito o desejo sincero de saúde, alegria, paz e um pouco (muito) do tempero da Vida que
recebemos e temos obrigação de dar... Amor.
Paulo do Monte Pedral / Maio de 2012