Por estes dias, a televisão privada em Portugal celebra 18 anos de vida.
Eu ainda sou do tempo em que havia apenas dois canais que emitiam a preto e branco e encerravam a emissão por volta da meia-noite com o hino da RTP acompanhado por uma animação de desenhos que muitas vezes não se percebia… ainda era eu “puto” e lembro-me que num domingo de manhã estava a ver os desenhos animados quando a minha mãe me chamou para ir à missa da Catequese na Capela do Monte Pedral; com a pressa, saltei da cadeira e dei com o queixo na mesa, e cortei a língua – provavelmente um sinal!
Desde esse tempo, a caixinha que mudou o mundo mudou profundamente as nossas vidas e os nossos hábitos sociais, familiares e pessoais. Julgo que, como tudo na vida, estas mudanças trouxeram algumas vantagens pois abriram janelas ao mundo quase em cima dos acontecimentos mas, por outro lado, provavelmente estas janelas abertas ocuparam de tal forma a nossa vida que quase não há tempo para o essencial. Um analista de audiências disse que Portugal quase pára na hora dos noticiários e do futebol e sugeriu aos canais de televisão que temos na nossa terrinha que todos os dias terminassem o noticiário com uma boa notícia.
Vem a propósito esta historinha enviada por pessoa amiga e que hoje partilho convosco…
Na sala de aula, uma professora pediu aos seus alunos que fizessem uma redacção sobre os meios de comunicação. Mais tarde, quando corrigia as redacções dos seus alunos em sua casa, encontrou uma que a deixou muito emocionada… nesse mesmo momento, o marido entrou em casa e ao vendo-a soluçar, perguntou-lhe o que tinha acontecido. Ela simplesmente passou-lhe para as mãos uma folha de papel e disse:
- Lê. É a redacção de um aluno meu.
O marido sentou-se e começou a ler… “Eu gostava de me transformar numa televisão. Queria ocupar o lugar dela na minha casa, ter um lugar especial para mim e fazer com que à minha volta se reunisse toda a família. Queria ser levado a sério quando falasse, ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções ou perguntas. Queria receber a mesma atenção que ela recebe quando, às vezes, deixa de funcionar, ser a companhia do meu pai quando chega a casa e poder olhar para ele mesmo quando está cansado, ser procurado pela minha mãe quando ela esta sozinha e aborrecida e ser motivo de disputa entre os meus irmãos para poderem estar comigo. Gostava tanto de ser uma televisão para poder sentir que a minha família deixava tudo de lado para, ao menos, ao final do dia sentar-se à minha frente, prestar-me atenção e passar alguns momentos comigo. Por fim gostava de ser uma televisão para poder fazer rir todos lá em casa”
Quando terminou a leitura, o marido entregou o papel à esposa e disse:
- Muito criativo este menino, mas coitado pela família que tem.
A esposa e professora amassou o papel entre as mãos, baixou os olhos e no meio de uma lágrima profunda disse-lhe:
- Essa redacção é do nosso filho João.
Caríssimos, parece-me que não preciso mais palavras para reforçar ou destacar este ou aquele pormenor da historinha que a todos nos toca – sejamos ou não pais. Uma das coisas que desde muito cedo aprendi e faço questão de escolher é o restaurante onde às vezes vou com os amigos ou com os meus pais comer: se tem bom ambiente e se nesse ambiente não tem televisão aos berros, e se há um prato especial que prenda a atenção para ser alvo de comentários passo-os para os meus contactos no telemóvel, pois assim sei que se lá for de novo terei oportunidade para, para além de saborear uma boa refeição, falar de coisas importantes para a vida. Tenho amigos que ás vezes desesperam com o tempo de espera pela refeição e com a ausência de televisão nesses restaurantes, mas procuro fazer com que as azeitonas, o pão com manteiga e o queijo (ou outras entradas) sejam motivo de conversa.
Há benefícios que todos retiramos da televisão, mas por certo julgo que a sociedade moderna da comunicação não deverá substituir a presença física ou o diálogo… é bom receber uma carta, uma sms ou um e-mail ou ainda ver alguém a falar para nós na televisão ou no “Youtube” mas essas virtualidades de comunicação em presença, atitude e emoção apesar de nos colocarem mais perto e ao alcance de todos, não substituem a realidade e necessidade que todos temos do ânimo de uma palavra, da força de um diálogo e do calor de um cumprimento ou abraço… sejamos também bons gestores destes meios de comunicação e em vez de manter o power em “stand by” desliguemos de vez em quando esses equipamentos para poupar energia e ganhar em calor humano.
Paulo do Monte Pedral / Outubro 2010