Numa carpintaria tradicional houve uma reunião entre todas as ferramentas com o objetivo de acertar as suas diferenças e aclamar a ferramenta mais importante.
O martelo tomou a palavra e propôs-se exercer a presidência, não só por ser uma ferramenta de peso mas também por estar habituado a ditar sentenças num qualquer tribunal dos homens, mas os outros participantes foram unânimes em dizer-lhe que teria de renunciar ao cargo pois fazia barulho demais e, para além disso, os seus golpes e pancadas às vezes falhavam o alvo e, outras vezes, as suas orelhas arrancavam mais do que era preciso. Resignado, o martelo aceitou a sua culpa mas como era uma ferramenta “de peso”, exigiu que o parafuso também fosse excluído, argumentando que ele tinha um feitio muito esguio, uma cabeça dividida e dava muitas voltas para conseguir o seu objetivo. Perante os argumentos do martelo e o balbuciar das outras ferramentas, o parafuso viu-se obrigado a concordar mas, por sua vez, pediu igualmente a exclusão da lixa. Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os outros e, por mais fineza que tivesse, provocava sempre atritos e lixadelas. A lixa não teve outro remédio senão concordar, mas com a condição de que se excluísse também o serrote pois apesar de ele não ter boca ou língua, os seus terríveis dentes cortavam tudo e todos e deixavam sempre no chão um serrim que em todo o lado penetrava e tudo sujava. O serrote concordou mas – por entre os dentes – afirmou que se devia de excluir também o metro pois ele media os outros com a sua própria medida e julgava ser o único perfeito. O metro, convencido de tomar sempre as medidas certas e justas ia para falar, mas nesse preciso momento em que os ânimos ferramenteiros se começavam a exaltar, entrou o Carpinteiro e iniciou o seu trabalho. Pegou numa tábua tosca, utilizou o metro, o serrote, o martelo, pregos e parafusos, cola de madeira misturada com serrim e outras ferramentas e materiais… Ao final de algum tempo de trabalho a tosca tábua de madeira transformou-se num belo e resistente berço para uma criança. Quando as ferramentas ficaram novamente a sós, a discussão voltou. Foi então que a cola, habituada a juntar as partes tomou a palavra e disse: "Caros colegas de oficina, ficou demonstrado que todos nós temos defeitos, mas O Carpinteiro trabalha com as nossas qualidades, com os nossos pontos fortes; assim proponho um acordo entre todos nós… nestes tempos difíceis que todos vivemos, não vamos relevar os nossos pontos fracos nem vamos agora eleger o mais importante; vamos sim passar a valorizar os nossos pontos fortes para vivermos todos juntos, fortalecidos como os elos de uma corrente bem unida". Todas as ferramentas aprovaram a proposta e perceberam que se o martelo era barulhento, também era forte; se o parafuso dava voltas e mais voltas, também unia e dava força a essas uniões; se a lixa era áspera, era também especial pois limava e afinava as eventuais asperezas e esquinas; o serrote tinha uns dentes terríveis, mas às vezes era a força desses dentes que permitia separar o bom do menos bom e se o metro estava sempre a tirar medidas aos outros, na verdade ele era também preciso e exato... Foi assim que as ferramentas da carpintaria se deram conta de que todas as habilidades que possuíam eram necessárias para o trabalho em comunidade!
Caríssimos Amigos, tantas vezes ouvimos ou fazemos barulho, andamos ou vemos outros andar ás voltas, tornamo-nos ásperos ou somos "lixados", medimos os outros ou são os outros que nos "tiram as medidas" e “fazemos serrim”... Na realidade, bastava apenas compreender que somos elos (iguais ou não, direitos ou tortos e até de materiais diferentes) de uma corrente e que o segredo da vida em família, na escola, no trabalho, com os amigos, no grupo ou na comunidade reside no respeitar as nossas diferenças promovendo uma união firme pela “cola” da lealdade, honestidade e amizade... Está nas nossas mãos e no nosso coração deixar que essa transformação aconteça... Neste Natal, pela mão do "Carpinteiro Nazareno"
Paulo do Monte Pedral / Dezembro de 2012