No silêncio parei para pensar, e nas areias molhadas do mar
À noite, sentei-me um bocado…
Pela minha cara uma lágrima rolou, e sem querer ela escapou
Ao encontro do mar salgado.
Sinto a falta de um carinho, de um “xi-culação” apertadinho
Estremeço dia e noite com frio…
Sou um oceano de emoções, mergulhado em tradições
Que aos poucos vai ficando vazio.
Sempre fui homem de multidões, corri meio mundo, arrebatei corações
Semeei amores e colhi algumas inimizades…
Mas, quando parava para pensar ao tentar o desejo enganar
Confundia sempre as minhas vontades.
Volvidos todos estes anos de vida, descobri que tenho uma ferida
Que ás vezes sangra e me invade de dor…
E é ela que me sufoca ao falar, é ela que me tolhe ao ter de calar
E pouco a pouco me faz morrer de amor.
Nada fiz para a contrair, foi a vida que a fez surgir
Anunciando-se sem perigo…
Mas propagou-se pelos sentidos, deixando os meus lábios tolhidos
Num olhar, que se quis de amigo.
Este vazio nas areias do mar, com tanta água salgada a ondular
Confunde o palpitar do meu coração…
Mas vai inebriando os sentidos, desbloqueando alguns tolhidos
E fazendo compreender a razão.
Avivou esta ferida, que ao longo dos anos parecia esquecida
A determinação analista de estrangeiro e tradutor…
Era já obra de engenharia, que arquitectada com mestria
Misturava as emoções num colorido de Amor.
Mas penso que esta ferida crónica, de natureza lacónica
Será sempre vivida num espírito de solidão…
Pois, só ama quem se deixa amar; só tem quem aprendeu a dar
E, finalmente, só vive quem sem medos tem paixão!
Paulo/Junho de 2006